segunda-feira, 21 de setembro de 2009

A Cientificação do Amor

A CIENTIFICAÇÃO DO AMOR

Michel Odent, autor do livro “A cientificação do amor”, sugere que o amor (ou atração) tem suas raízes ao nível celular, na verdade, na superfície das células, na forma de receptores que se aderem ou se unem com substâncias químicas com mensagem anexadas. Este fenômeno de encapsulamento pode ser visto como o amor a um nível molecular, e, altamente seletivo. Isso provém do estudo da ocitocina, o hormônio do trabalho de parto, nascimento, lactação, e, amor materno. Na verdade, quase qualquer tipo de amor: homens e mulheres também liberam ocitocina durante a atividade sexual.

Todo ser humano pode experienciar o amor; ainda que seja difícil defini-lo, muito menos é vivê-lo. O amor está no coração da poesia, da arte, da filosofia, da religião e da cultura popular; mas o amor dificilmente tem sido visto como um assunto de estudos científicos. Isto porque a pesquisa científica se tornou muito especializada e os novos dados científicos sobre o amor e todas as suas manifestações estão emergindo de múltiplas disciplinas e especialistas que detectaram detalhes pequenos, mas vitais, no quebra-cabeça dessa nova área de pesquisa, desconhecem ou são incapazes de perceber como suas descobertas se conectam com outras pesquisas.

Estudos concluem que o hormônio estrogênio estimula o comportamento materno, e que o rápido declínio nos níveis de progesterona, que ocorre no período que cerca o parto, contribui para a manifestação do comportamento materno. Sabe-se também que o hormônio ocitocina é essencial durante o processo de parto e lactação. Ele estimula as contrações uterinas para o parto do bebê e para a saída da placenta, como também o reflexo da ejeção de leite.

Outros estudos mostram que a mãe libera hormônios tipo morfina (opiáceos) durante o trabalho de parto e parto, como também o bebê. Podemos perceber que durante um certo tempo após o parto, a mãe e bebê estão impregnados com opiáceos, que levam a um começo de uma dependência, um vínculo que provavelmente se desenvolverá.

Ainda, os hormônios da família da adrenalina, geralmente vistos como hormônios da agressão, têm um papel na interação mãe e bebê imediatamente após o parto. Durante as últimas contrações antes do parto, o nível desses hormônios atinge picos na mãe. É por isso que as mulheres tendem a ficar na vertical, cheias de energia, com súbita necessidade de se agarrarrem a alguém ou alguma coisa. Um dos efeitos da liberação de adrenalina é a mãe estar alerta quando o bebê nasce. O bebê por sua vez, durante as últimas e fortes contrações expulsivas, libera seus próprios hormônios da família da adrenalina. Isso possibilita ao bebê adaptar-se à privação de oxigênio, específica desse estágio do parto e o visível estado de alerta do bebê no parto, com os olhos bem abertos e pupilas dilatadas. As mães ficam fascinadas e encantadas pelo olhar fixo e atento de seus bebês recém-nascidos. Esse contato olho-no-olho é uma importante característica do início do relacionamento mãe-bebê em humanos.

Os efeitos comportamentais dos diferentes hormônios envolvidos no processo de parto e nascimento são importantes nas futuras interações entre a mãe e o bebê. Hoje a ocitocina é considerado um importante hormônio do amor. A ocitocina é um dos principais hormônios envolvidos em diferentes aspectos da sexualidade masculina e feminina. É um hormônio capaz de induzir o comportamento maternal na primeira hora após o nascimento. A ocitocina também é liberada durante o ato sexual e orgasmo pelos dois parceiros. A ocitocina tem um papel direto na reprodução. No orgasmo masculino, a liberação de ocitocina ajuda a induzir as contrações da próstata e das vesículas seminais. Durante o orgasmo feminino, o efeito imediato da liberação de ocitocina é induzir contrações uterinas, o que ajuda a transportar o esperma em direção ao óvulo para fecundá-lo. Também sabemos que a liberação de ocitocina durante a lactação, através da sucção do bebê ao seio materno é semelhante aquela durante o orgasmo.

O hormônio do amor é sempre parte de um complexo balanço hormonal. Quando há uma repentina liberação de ocitocina, a necessidade de amar pode ser direcionada em vários sentidos, de acordo com o balanço hormonal. Por isso há diferentes tipos de amor. Quando há um alto nível de prolactina a tendência é direcionar os efeitos do hormônio do amor para os bebês. A prolactina é conhecida como o hormônio necessário para iniciar e manter a lactação. A prolactina não é apenas o hormônio da maternagem, mas também atua para reduzir o desejo sexual e a pré disposição para conceber. De modo geral, mamíferas quando amamentam não estão receptivas ao macho. Sua capacidade de amar é quase que exclusivamente direcionada para os bebês.

Assim, os hormônios liberados durante a relação sexual, parto e lactação têm papéis importantes na construção do amor maternal e vínculo mãe-filho.


Retirado do livro: A cientificação do amor do autor Michel Odent, médico francês (Ed. Saint Germain).

Texto Elaborado pela Enfermeira Obstetra Leila Regina Wolff


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